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Como Orientar o Uso Correto do Protetor Solar?

Artigos Científicos
David Rubem Azulay004/12

Por Dr. David Rubem Azulay – Para muitas pessoas sem informações adequadas, a aplicação de protetor solar é a única forma de proteção, e suficiente per se. Pelo uso inadequado (pequena quantidade ou reaplicação infrequente), muitos não obtêm um grau adequado de fotoproteção, mas, por acharem que estão protegidos, acabam ficando mais tempo expostos ao sol e, como resultado, expõem-se mais à radiação UV. Assim, é fundamental a orientação correta de cada paciente sobre como utilizar o filtro solar, recomendando‑se sua aplicação, pelo menos, 20 minutos antes da exposição solar e reaplicação a cada 2 horas. Os pacientes ainda devem ser lembrados de que a radiação UV não é afetada por frio, calor ou vento, e de que os raios refletidos na superfície terrestre variam conforme o local: 5% na água, 25% na areia e 85% na neve.

A quantidade de protetor solar aplicada é outro fator importantíssimo para a efetiva fotoproteção. Para que o fator de proteção indicado no rótulo seja alcançado, a quantidade de fotoprotetor empregada deve ser de 2 mg/cm2 (mesma quantidade utilizada no cálculo da dose eritematosa mínima – DEM). Na prática, as pessoas aplicam cerca de um terço da quantidade preconizada, em torno de 0,5 a 1 mg/cm2, diminuindo consideravelmente o FPS do rótulo. Diante disso, a Food and Drug Administration (FDA), dos EUA, estabeleceu em 2011 que o índice mínimo de FPS seja 15. Considerando que a relação entre dose e efeito não é linear, o que implica pouco aumento relativo da eficácia dos fotoprotetores com FPS acima de 30, o uso de FPS mais elevados pode servir como medida compensatória para a quantidade bem menor que o ­ideal.

É importante também orientar os pacientes a não terem a percepção equivocada de que o uso dos protetores representa um “passaporte” para a exposição solar. Além disso, os pacientes devem ser advertidos de que, se não evitarem o excesso de sol e não colocarem em prática as medidas complementares de fotoproteção, estarão desperdiçando o seu dinheiro em produtos cosméticos e procedimentos. Em relação às medidas comportamentais, sempre se deve buscar abrigo à sombra quando em ­áreas de lazer como a praia. O momento ­ideal para aplicação do fotoprotetor é pelo menos 15 a 30 minutos antes da exposição ao sol.

Individualização da prescrição

A indicação precisa de um fotoprotetor para cada paciente, de modo personalizado, ajuda a aumentar a aderência ao uso diá­rio do produto. Atletas devem ser orientados a aplicar o fotoprotetor sempre abaixo da linha dos olhos, pois a transpiração leva à conjuntivite quí­mica com fre­quência. Pacientes com pele acneica devem utilizar produtos não comedogênicos em gel ou isentos de óleo (oil‑free). Loções ou emulsões aquosas são mais indicadas para extensas ­áreas corporais ou re­giões pilosas. Protetores oleosos são causa frequente de acne.

Fotoproteção e vestuá­rio

O grau de proteção oferecido pelas roupas é função de diversas características intrínsecas ao material, bem como de sua modelagem, e pode ser acessado pelo índice denominado fator de proteção ultravioleta (FPU), que mede a porcentagem de radiação UV filtrada pelo tecido. (Tabela 1) Esse índice é calculado in vitro pela alteração na quantidade de radiação detectada quando o tecido é colocado entre o detector e uma fonte de UV com espectro conhecido. Por exemplo: FPU 50 significa que 1 a cada 50 raios atinge a pele, ou seja, 2% da radiação total, portanto, 98% foram bloqueados. O FPU também pode ser aumentado pela adição de protetores solares em detergentes e amaciantes, persistindo por algumas lavagens. Confecções especiais já trazem destacado esse índice. São exemplos o microfilamento de poliamida contendo TiO2; a poliamida com elastano (­ideal para natação); o polié­ster (favorece a absorção do suor e suas microfibrilas facilitam o transporte dele para o exterior); e o algodão tratado com Tinofast®, capaz de absorver a radiação UV.

Tabela 1 Características dos tecidos e fotoproteção.

Ao recomendar o uso de chapéu­s como estratégia de fotoproteção, deve‑se ressaltar que precisam proteger cabeça, orelhas e pescoço, além de ser confeccionados em tecidos não transparentes à radiação UV. O tamanho da aba é um fator importante, devendo ser de, no mínimo, 7 cm em todo o perímetro cefálico. Fica claro, portanto, que o uso de bonés não confere fotoproteção adequada.

Fotoproteção e vitamina D

Como uma das vitaminas essenciais, a vitamina D desempenha vários papéi­s no desenvolvimento e na manutenção da homeostase ao longo da vida, e sua deficiên­cia está relacionada com diminuição do desempenho físico, doen­ças neurológicas, cardiovasculares e ósseas, bem como alguns tipos de câncer. A forma ativa da vitamina D não está naturalmente presente no organismo, e sua deficiên­cia está relacionada a inúmeros fatores, como dieta, estação do ano, localização geográfica, estilo de vida, prática de fotoproteção, fototipo e idade. Existem apenas três fontes de vitamina D: produção endógena mediante absorção de UVB na pele em doses suberitrogênicas, ingestão de alimentos que contenham vitamina D3 (colecalciferol) – como óleo de fígado de bacalhau, gema de ovo e alguns peixes de água salgada – e de suplementos dietéticos contendo vitamina D.

A síntese endógena, que tem início com a exposição cutâ­nea à radiação UVB, é o principal meio de acumu­lação de vitamina D no corpo humano. Após a exposição à radiação UVB, o 7‑desidrocolesterol é fotoisomerizado na pele para pré‑colecalciferol, ou pré-vitamina D3. Essa molécula é então convertida em colecalciferol, ou vitamina D3, e armazenada no interior dos adipócitos. Quando a demanda fisiológica aumenta, a vitamina D3 entra na circulação para ser ainda modificada, em duas reações de hidroxilação. A primeira ocorre no fígado: a conversão de colecalciferol a calcidiol, também conhecida como 25‑hidroxicolecalciferol (25(OH)D, utilizada para a medida de níveis séricos). A segunda hidroxilação ocorre nos túbulos proximais do rim, gerando a forma ativa da vitamina D, também conhecida como calcitriol ou 1,25‑di‑hidroxicolecalciferol (1,25(OH)2D). Níveis séricos de 25(OH)D ≤ 15 ng/ml são considerados inadequados.

Fotoproteção na infância

Durante essa fase da vida, a exposição solar é maior em virtude dos hábitos e das atividades comuns dessa faixa etária. O dano actínico é cumulativo, e o excesso de exposição solar e de queimaduras desde a infância aumenta o risco de desenvolvimento do câncer de pele na vida adulta. Estima‑se que cerca de 50% da radiação UV recebida durante toda a vida ocorra até os 18 anos de idade. Portanto, é fundamental educar e conscientizar crianças e adolescentes sobre as medidas de fotoproteção, alertando‑os em relação aos riscos da exposição solar desenfreada, para que no futuro possa ser observada uma redução nos índices de câncer de pele.

Essa abordagem deve ser ainda mais incisiva nas crianças com fototipos baixos, com inúmeros nevos ou efélides e história familiar de melanoma. Nos EUA, no Reino Unido e na Austrália, organizações governamentais já participam e incentivam as escolas a desenvolveram campanhas de fotoproteção desde o ensino básico, fundamentadas no comportamento inteligente de exposição ao sol, alterando o horário das atividades ao ar livre para evitar o horário de pico da radiação UV, em conjunto com outras medidas de fotoproteção. São atitudes simples e de baixo custo, mas de grande impacto na futura redução da mortalidade por câncer de pele.

Embora não haja evidência para sugerir que os protetores solares sejam prejudiciais para as crianças com menos de 6 meses de idade, a ausência de estudos de segurança faz com que o uso desses produtos em crianças nessa faixa etária não seja rotineiramente recomendado. Até os 6 meses, a melhor orientação é evitar a exposição solar. Não sendo possível, recomenda-se o uso de roupas e chapéu­s adequados e a adoção de outras medidas de fotoproteção. Após os 6 meses de idade, o uso regular de fotoprotetor já é liberado, sendo sugerido o uso de protetores inorgânicos até os 2 anos, por serem menos alergênicos do que os orgânicos.

Considerações finais

Como demonstrado, evitar a exposição solar, em associação a outras medidas de proteção – como o uso de roupas adequadas, chapéus de aba larga e óculos de sol com proteção de todo espectro UV (até 400 nm, a fim de prevenir catarata e danos à retina) em ambientes externos, seja trabalhando, praticando esportes ou dirigindo, além da busca pela sombra –, faz parte de uma estratégia de fotoproteção abrangente e eficaz, que deve ser sempre encorajada.

 

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Sobre o Autor

David Rubem Azulay

David Rubem Azulay

Chefe de Serviço do Instituto de Dermatologia Prof. Rubem David Azulay da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro. Professor Titular do curso de Pós-Graduação em Dermatologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Chefe do Departamento de Especialidades da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques. Professor Assistente de Dermatologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mestre em Dermatologia pela UFRJ.

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