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Dia do Médico e o Médico como Paciente

Artigos Científicos
Celmo Celeno Porto017/10

Por Dr. Celmo Celeno Porto – Para se compreender os dois lados da relação, o do médico e do paciente, nada melhor do que conhecer alguns relatos de médicos que se tornaram pacientes. Um dos mais ilustrativos é o do Dr. Rabin, um endocrinologista americano, acometido por esclerose lateral amiotrófica. Eis o relato que fez sobre seu “encontro clínico” com um renomado neurologista: “Fiquei desiludido com a maneira impessoal dele se comunicar comigo. Não demonstrou, em momento nenhum, interesse por mim como uma pessoa que estivesse sofrendo. Não me fez nenhuma pergunta sobre meu trabalho. Não me aconselhou nada a respeito do que tinha de fazer para me adaptar àquela doença, que sabíamos – eu o neurologista – não ter cura. Gastou seu tempo me expondo aspectos anatômicos e patológicos e apresentou com detalhes (inúteis para mim) a curva de mortalidade da esclerose amiotrófica”.

Ao fazer reflexões sobre esta sua experiência como paciente, o Dr. Rabin deu-se conta de que sua formação médica também se caracterizou pela busca de conhecimentos científicos, os mais refinados possíveis, mas que deixou em segundo plano a capacidade de comunicação com os pacientes. O resultado é o despreparo dos médicos em valorizar a história de vida do paciente e a necessidade de apoiá-los emocionalmente.

Surpresa maior teve o Dr. Rabin ao ler um artigo deste mesmo médico no qual atribuía grande importância ao papel de apoio psicológico no tratamento de pacientes com esclerose lateral amiotrófica! Seu discurso nada tinha a ver com sua prática.

A conclusão é óbvia: a formação dos médicos, assim como da maioria dos outros profissionais da saúde, precisa ser reformulada. A exclusão de uma parte dos conhecimentos biológicos para abrir espaço ao aprendizado dos processos de comunicação não fará falta alguma para bem cuidar de pacientes.

Outro relato ilustrativo é o do Dr. Sack, famoso neurologista que passou à condição de paciente ao fraturar uma perna. Sua entrada em um hospital, agora na condição de doente, foi descrita da seguinte maneira: “Vivi momentos de sistemática despersonalização. Minhas vestes foram substituídas por roupas brancas padronizadas e passei a ser identificado apenas por um número. Perdi muitos de meus direitos e fiquei na completa dependência das normas da instituição. Em determinados momentos era como se minha pessoa tivesse desaparecido porque a atenção de todos visava apenas minha perna fraturada”.

Os bons resultados do tratamento da fratura não apagaram as recordações negativas de sua experiência como paciente. Tal como o Dr. Rabin, concluiu seu relato reivindicando uma reformulação na formação médica, particularmente no que se refere ao relacionamento entre o médico e o paciente.

Questão semelhante foi tema do filme The Doctor, cujo título em português é Golpe do Destino. Neste filme é contada a história de um famoso cirurgião cardiovascular acometido de um câncer na garganta. O médico relata suas vivências com uma médica, especialista em oncologia, que se comportava rigorosamente no modelo técnico, tal como ele. Era muito competente, mas suas atitudes eram frias e distantes. Só se interessava pela “lesão cancerosa na garganta”. Sua condição humana, as questões familiares que eclodiram com o câncer, nada disso despertou nela o mínimo interesse.

Naquele mesmo hospital havia outro oncologista, “estigmatizado” pelos colegas pelas suas preocupações com o lado humano da medicina. A ele recorreu após se desiludir com a medicina tecnicista. Este médico detinha e utilizava todos os conhecimentos científicos, mas, além deles, tinha capacidade de ver o paciente em sua individualidade e em sua totalidade. Ao mudar de médico, a vida do cirurgião, como doente, também mudou. O mais importante é que, ao recuperar sua saúde, ele mudou também sua maneira de encarar sua própria prática médica e seu papel de professor. Belas lições podem ser aprendidas neste filme.

Em que estava a diferença entre os dois oncologistas? Por certo não era na competência técnica. Quanto a isso eram iguais. A grande diferença residia na relação médico-paciente e na capacidade de comunicação. Ao conseguir se comunicar, os aspectos psicológicos – o fantasma do câncer desperta medos profundos –, os sociais – as relações com sua família e seu futuro como cirurgião –, puderam ser abordados com repercussão favorável no próprio tratamento da lesão. Foi uma boa relação médico-paciente que o fez aderir ao tratamento de “corpo e alma”, conforme declarou.

 

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Sobre o Autor

Celmo Celeno Porto

Celmo Celeno Porto

Professor Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Goiás (UFG). Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Especialista em Clínica Médica e Cardiologia. Membro Titular da Academia Goiana de Medicina. Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina.

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